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Milhares de colmeias queimadas colocam em risco a produção de mel DOP da Serra da Lousã

 

Os incêndios que atingiram a região Centro destruíram milhares de colmeias e pasto das abelhas em vários concelhos, o que fará diminuir a produção de mel certificado da Serra da Lousã nos próximos anos, disseram responsáveis do setor.

«Terão ardido milhares» de colmeias e cortiços, segundo uma estimativa provisória do apicultor António Carvalho, presidente da Cooperativa Lousãmel, a entidade que gere a Denominação de Origem Protegida (DOP) da Serra da Lousã.
Às colónias de abelhas dizimadas pelo fogo, soma-se, em toda a região demarcada, um número igualmente elevado de apiários cuja flora em redor foi reduzida a cinzas.

As abelhas «morrerão de fome» se não forem alimentadas artificialmente no local pelos proprietários ou objecto de transumância.
«A flora não vai recompor-se no espaço de três anos», disse António Carvalho. A Lousãmel, com sede na Lousã, tem cerca de 450 associados em diferentes concelhos.

Na região demarcada, além de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, onde o fogo lavrou durante vários dias e teve consequências mais trágicas, foram também afectados os concelhos de Arganil, Góis, Pampilhosa da Serra e Penela.
«Foi um passo muito negativo» para o futuro da apicultura na Serra da Lousã, pelo menos até ao fim da década, disse.

Ana Paula Sançana realçou que morreram igualmente «milhões de outros insectos que fazem a polinização» de espécies, como as urzes, o castanheiro e o medronheiro, entre outras, cujos néctares e pólenes são determinantes para a qualidade do mel DOP.
«Também por isso, a regeneração destas espécies vai ser muito mais lenta», sublinhou.

Luís Estêvão é o presidente da Cooperativa Pampimel, que conta cerca de 70 associados no concelho da Pampilhosa da Serra, onde arderam 150 colmeias e cortiços, e cerca de 600 unidades ficaram sem alimento.
"Nalguns casos, num raio de cinco a seis quilómetros, não há nada", afirmou, indicando que os apicultores "ainda conseguiram salvar muitas colmeias".

Devido à seca dos últimos meses, os produtores já contavam com uma baixa na produção de mel na Serra da Lousã.
Os incêndios vieram agravar as previsões: "Vai haver uma redução nesta campanha e as quantidades vão ser afectadas nos próximos anos", segundo Luís Estêvão.

«É urgente alimentar» os enxames sem pasto, recorrendo a produtos artificiais, mas os seus donos «vão ter de arranjar alternativa para as mudar», defendeu, por sua vez, o presidente da Câmara da Pampilhosa da Serra, José Brito, proprietário de meia centena de colmeias.

A Câmara Municipal «vai comprar alguns produtos» para ajudar a alimentar as colmeias nesta fase.
A autarquia espera ser ressarcida das despesas pela Administração Central. «Se não conseguirmos esse apoio, suportamos nós os encargos», adiantou.

Almerindo Costa, presidente da Associação de Apicultores Serramel, que reúne 70 produtores e organiza a feira do mel do Espinhal, disse que o fogo destruiu 85 colmeias e cerca de 70 cortiços no concelho de Penela.
«Este ano já vai ser mau» em termos de produção e a destruição de extensas áreas florestais onde predominam as urzes “vai ter impacto” durante alguns anos nas quantidades de mel colhidas.

As chamas consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a 75 mil campos de futebol.
A área destruída por estes fogos corresponde a praticamente um terço da área ardida em Portugal, em 2016, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna divulgado pelo Governo em março.



Fonte: Agrotec Consultar fonte
Data de publicação: 30/06/2017 10:31